Grupos no Facebook reúnem pessoas para trocas de objetos

Negociações que não envolvem dinheiro são a nova tendência entre pessoas que se preocupam em consumir de maneira sustentável e as redes sociais ajudam a disseminar esta prática. Grupos no Facebook reúnem aqueles que possuem coisas para trocar e que jamais teriam oportunidade de se conhecer se não fosse a internet. Os anúncios variam de ofertas de trocas de maquiagens, latas de tinta, cadeiras, coleção de gibis, bicicletas, roupas, livros e por aí vai.

A dinâmica da negociação é simples, basta publicar a foto do que se quer passar adiante e no post você pode informar o tipo de coisa que gostaria de receber pelo objeto ou deixar em aberto. A partir daí, os interessados vão oferecendo seus próprios itens pelos comentários e o dono do objeto anunciado decide com quem vai realizar a troca. Não é incomum que novas negociações de troca surjam a partir dos comentários em alguma publicação, pois muitas pessoas informam aquilo que tem disponível por ali e despertam o interesse de outras.

A forma com que os objetos negociados na troca chegarão às mãos dos novos donos geralmente é combinada através de mensagens privadas. Tem quem envie pelo correio, mas o mais comum é fazer a entrega pessoalmente para evitar o pagamento do frete e qualquer possível problema. Os encontros são marcados em estações de metrô, cafés, ou, dependendo do nível de confiança entre os envolvidos, vale até no trabalho ou em casa.

A orientadora de carreiras Raquel Amaral, de 40 anos, faz parte de grupos de troca há pouco mais de um mês, mas já é uma veterana na prática do escambo. Ela decidiu trocar objetos sem uso quando se mudou para uma casa menor e muitas coisas não se adequavam ou cabiam no novo lar. Ela já trocou mochila por fruteira, fritadeira e centrífuga por serviço de marcenaria, sapato por vestido, CDs por filtro personalizado, entre outros objetos que estavam sem uso.

Raquel Amaral e alguns dos objetos que conseguiu trocando por coisas que não tinham mais utilidade em sua casa.

“Gosto do grupo, pois não vejo um contexto comercial. Percebo que muitas trocas não são realizadas no valor do produto e isso é muito legal, pois enfatiza a troca pela necessidade. Claro que existem alguns casos onde o valor é mencionado, mas no geral é uma troca de utilidade. Eu nunca fui de comprar, mas depois de conhecer os grupos de troca não compro mais quase nada. É uma pratica muito legal. Minimiza a necessidade de ir a uma loja, recicla algo que você jogaria fora, possibilita fazer amizades”, conta.

Marcelo Maciel e Renata Thomé, dois adeptos do escambo através de grupos do Facebook.

Dono de uma empresa de tecnologia, Marcelo Maciel de 36 anos, começou a frequentar grupos de troca quando perdeu vários de seus clientes há cerca de um ano. Com uma série de equipamentos de informática parados, ele recorreu aos grupos e descobriu uma forma simples de ampliar seus contatos e negociar objetos sem uso de maneira direta, sem atravessadores, o que considera uma grande vantagem.

“Percebi que o dinheiro não é extremamente necessário para tudo nesta vida. Com as trocas voltamos a uma prática que era realizada na idade média sem nenhum intermediário e ainda tendo a tecnologia como grande aliada, isso é sensacional. Poder se desfazer de coisas que não tem mais utilidade para mim, conseguindo em troca algum objeto ou serviço que m fazer diferença no meu dia a dia é algo que mudou a minha maneira de encarar o consumo”, disse.

Na foto Melina Kurin mostra objetos de troca (roupa, cadeira, acessórios), exceto a cachorra de estimação

A professora de sociologia Melina Kurin, de 29 anos, é adepta das trocas a partir de grupos no Facebook há três anos. “Nós sempre temos coisas que não usamos por diversos motivos: presentes, repasses, compras por impulso; por conta disso comecei a frequentar grupos destinados a trocas e consegui negociar várias coisas, desde peças de vestuário e móveis e até serviços como aulas de línguas”, contou.

Para Melina o mais importante em trocar um objeto é a prática do desapego para se livrar de algo que não precisamos: “Quando a gente viaja faz uma mala levando apenas o essencial, mas na vida temos a mania de acumular uma série de coisas que não precisamos e que podemos viver sem”, explica.

Anna Dombrauskas mostra look completo provenientes de trocas na internet

A estudante de letras Anna Dombrauskas, de 20 anos, também considera a troca uma maneira inteligente de lutar contra o acúmulo de coisas sem uso, além de uma forma de evitar o consumo: “Acredito que ações como estas são muito importantes para quebrar este ciclo consumista em que vivemos, compramos tantas coisas que não são úteis e as armazenamos compulsivamente. Trocar é uma maneira de renovar o que não usamos por coisas que podem ser úteis”, conta.

Mas nem tudo são flores no mundo das trocas. Embora a maioria das pessoas contem sobre experiências positivas, também existe há o lado ruim. Existem produtos que não são exatamente como aparentam ser nas fotos e equipamentos que não funcionam. Em casos de entregas combinadas pelo correio, também há risco de não receber o prometido. Portanto, o ideal é se certificar de que a pessoa com quem está negociando é de confiança para não ‘trocar’ gato por lebre.